ENTRETEMPO
EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL NA BIANCA BOECKEL GALERIA | SP
ENTRETEMPO foi a minha primeira exposição individual em São Paulo em março de 2019. A ideia da mostra era apresentar o meu trabalho para SP, com isso, misturamos trabalhos antigos na primeira sala - Instante para Sempre e Cura - e a segunda sala foi ocupada por obras inéditas.
Juntos podemos ressignificar nossas dores, marcas e traumas. A doença está a serviço da saúde, ela vem para nos mostrar algo que não estamos olhando. Meus medos vem da falta de presença, se perceba, olhe mais pra dentro. A vida é hoje, aqui e agora. Cicatriz é símbolo de força, só tem cicatriz quem está vivo. A arte cura.
TEXTO DA CURATORIAL POR BIANCA BOECKEL
A Bianca Boeckel Galeria exibe “entretempo", individual da artista visual carioca Gabi Gelli, com curadoria de Bianca Boeckel. Em sua primeira exposição em São Paulo, a artista apresenta 30 obras – fotografias, pinturas, cerâmicas, bordados, esculturas e instalações – que representam sua busca pela ressignificação, num conceito que aborda a estética do corpo, o tempo, o sentimento, a presença e a superação de experiências traumáticas.
Com o mote de trabalhar em prol de um propósito comum, a arte de Gabi Gelli fala da sobrevivência, de ser mais forte que os percalços da vida e do acolhimento. Aos 16 anos de idade a artista teve de lidar com um diagnóstico difícil e a necessidade de uma cirurgia no coração. A partir desse momento, iniciou sua produção artística de maneira instintiva, e o verbo “ressignificar” passou a guiar todo este caminho. Surgiram, assim, as pinturas e bordados da série "Coração", na qual fala sobre a trajetória de um trauma. Da superação dessa experiência, surgiram as séries“Cicatrizes” - em que fotografou cicatrizes de 21 pessoas e depois as transformou em bordados, ressignificando marcas que antes eram vistas como a parte mais feia de seus corpos em lindas obras de arte -, e “Cura”, que aborda a superação interna do trauma.
Sobre a série “Cicatrizes”, a artista comenta: “É algo que faz parte de você. Só tem cicatriz quem está vivo e isso é lindo, a gente tem que colocar em evidência ao invés de esconder. Esses trabalhos mostram como as cicatrizes podem ser graficamente bonitas. Busco ressignificar aquela estética do corpo perfeito, sem marcas”.
Na série “Mãos”, Gabi Gelli busca a ressignificação do tempo e da presença. Para obter os moldes que são usados como suporte das obras, foi preciso submergir suas mãos em gesso por alguns minutos. “No começo, me sentia angustiada por ficar com as duas mãos ali, o celular tocando, várias coisas para resolver e sem movimentos até o molde secar. Para mim, aquilo era um desespero - sou uma pessoa ligada no 220v, nunca imaginei ficar parada no ateliê”. Então, a artista se propôs a fazer quantas mãos fossem necessárias até atingir a calma e assimilar algo daquela experiência, e assim descobriu uma forma de meditação ativa. “Fazia um molde atrás do outro, fazia e secava, sem parar. Num dia fazia 12, no outro queria fazer 14. Em alguns dias ficava desesperada pro molde secar, em outros, colocava as mãos ali e ficava tranquila. Nem levava mais o celular pro ateliê”, comenta. Dessa forma, passou a entender o conceito de estar presente e voltou a meditar, algo que a faz muito bem e que há anos não praticava. Descobriu que seus medos vêm da falta de presença.
Ao compartilhar experiências pessoais, a artista busca se aproximar do público e ajudar outras pessoas por meio de obras que provocam uma identificação imediata, já que tratam de assuntos universais que, de uma maneira ou de outra, atingem a todos.
Nos dizeres da curadora Bianca Boeckel: “Não passei por um grande trauma na vida, o que não me impede de assimilar o que a artista relata e refletir sobre a minha própria trajetória. O trabalho da Gabi celebra a superação. Tem a dor, o trauma e a cicatriz, mas o que poderia ser pesado e sombrio foi transformado em beleza através da sua visão metafórica.”